Juazeiro do Norte CE / Cajazeiras PB

Com as boas bênçãos do milagreiro querido, Padin Pade Ciçu, deixei Juazeiro pra trás. Mas, não antes de pichar a estátua. Eu disse isso mesmo, “pichar”! Mas, não foi só eu. São milhares de romeiros que visitam a cidade e mais especificamente o Horto do Padre Cícero, no alto da serra. Todos vêm atrás de bênçãos, vem fazer pedidos, promessas, trazer esvotos... E a prática de escrever o nome na barra da batina da estátua do Padre é uma tradição entre os romeiros. Segundo a mulher que me emprestou sua caneta, eles fazem isso para que o padre não esqueça de seus pedidos.

Inclusive escrevem os nomes de familiares e amigos que precisem de algo, também.

Escrevi meu nome, fiz a tradicional foto, pegando na mão do santo (uma brincadeira que os fotógrafos do Horto fazem), comprei lembrancinhas no mercadinho dos romeiros, ouvi o guia contanto o quanto Cícero é querido pelo povo nordestino. Só não dei as três voltinhas entre a bengala e o corpo da estátua, ritual realizado apenas pelas beatas mais fervorosas. Eu não fiz, porque não cabia na estreita passagem entre a bengala e o corpo. Ainda to meio gordinho... rsss – Vocês sabem como eu sou: “Na terra de sapo, de cócoras com eles”...

Realmente impressiona a força da fé deste povo. Desde o mais simplório criador de cabrito, morador de tapera, que vem de pau de arara para as romarias que acontecem na cidade, até grandes políticos, que chegam em suas caminhonetes importadas. Todos são devotos. Eu agora também...
O dia foi perfeito. Vim para Cajazeiras PB, a cidade de meus pais. Embora tivesse perdido o endereço de meu tio (a quem vim visitar), sabia o nome da rua, Coronel Guimarães, no Centro. Seguindo as orientações de minha mãe, parei a moto na rua, e perguntei a um morador que respondeu: “Está logo ali, atrás daquela motona preta! Eu havia parado a moto em frente a casa de Zé Bubu, titio!
Foi muito bom rever o velho tio. Bem velhinho, mesmo! Botamos os assuntos da família em dia e fui andar pela cidade. Tirei algumas fotos e fiz umas comprinhas para o titio. É um homem solitário e estava meio adoentado.
O que me chama muito a atenção nessas cidadezinhas de interior é o costume das pessoas. No fim da tarde colocam suas cadeiras de balanço na calçada e ficam ali, “vendo a rua passar...” Quando chega um parente de vizinho, logo aparecem para conhecer, puxar assunto e, em pouco tempo, estamos cercados pela vizinhança, curiosa sobre o que faz com que um homem “normal”, como eu (não me conhecem...), venha rodando de moto de Brasília pra cá. Tentei explicar... Mas pra quê...?
Acho que esse jeito atencioso, sincero e sem rodeios dos nordestinos é o que mais me atrai e identifica. É um povo muito amoroso!

Pois é... Amanhã sigo para Natal. To doido pra pegar uma prainha... Ou vocês acham que ia só ralar no sertão???

 Estátua autografada por G.Gaitero (pichador sem vergonha...)

 Romeiras orando na batina da estátua.

 Ritual interessante: Três voltinhas entre a bengala e o corpo da estátua. "As bênçãos do Padi".

 Preceitos Ecológicos de Padre Cícero!? rsss - Homem de visão desde aquele tempo.

Os esvotos. Prática muito usada entre os religiosos que têm seus pedidos atendidos pelo santo e retribuem com uma escultura.

 Além da cultura e religiosidade, o Horto do Padre Cícero é fonte de renda para muita gente em Juazeiro.

 É alto mesmo! Uns vinte minutos subindo a serra até chegar ao topo. Um grande complexo com capelas,  lojas, lanchonetes, etc. A vista da cidade é magnífica.

Lindo painel sobre a vida de Cícero Romão Batista no Hotel Panorama. Grande personalidade de sua época. Padre, milagreiro, prefeito, deputado e rebelde. Incompreendido pelo vaticano e pelo estado. Amado por seu povo. Com respeito aos dois primeiros, estou mais para o amor desses ultimos.

Vala-me meu Padin Padi Cíço!!!

Placa as margens da BR 116 - Só para lembrar que essa região foi e ainda é (em alguns trechos), perigosa e violenta, segue ai essa foto de um "recado" à balas, que as quadrilhas gostam de deixar para os viajantes e para a propria polícia.